Atenta ao comportamento voyer do usuário ativo na internet, e nas emoções despertadas pelas celebridades já consagradas, me peguei passeando em perfis de artistas com mais de 1 milhão de seguidores no Instagram. A imagem era basicamente a mesma:
Não é preciso explicar o “Troco likes” e “Segue de volta (SDV)”, porque isso já deve ser comum para quem acompanha redes sociais de fotos diariamente – isso se você não for justamente o cara que troca curtidas. Os ‘pedintes’ de plantão usam perfis públicos de celebridades para garantir que suas mensagens sejam vistas nos comentários.
Sim, chegamos ao ponto da “celebridade a qualquer custo”, sem vergonha e sem medo de retribuir reforços positivos espontâneos. A internet virou o grande mercado do “troca-se um espelho de ti por ti mesmo”. Se não houvesse toda uma psicologia por trás desse tipo de comportamento eu reproduziria, aqui, a grande verdade dos tempos atuais: a zoeira, ela não tem limites.
A rede como “Espelho, espelho meu”
O conceito colaborativo de produção de conhecimento deu origem a um mercado do ‘por favor, diga que não há ninguém mais bela do que eu’. Apesar de ser uma etapa normal para o desenvolvimento, o narcisismo de Freud pode ser obsessivo – dependendo da proporção em que é vivido (ou não) pelo sujeito.
O que vemos hoje na internet é o conceito estrito do termo NARCISO, que tem origem no desejo de obter um objeto amoroso, passando ser o próprio corpo um investimento no outro. Ou seja, amo tanto a minha imagem, que invisto para que o outro dê um like na minha foto.
O investimento na própria imagem, como a definição da personalidade, é um processo histórico. O capricho da vestimenta de nossos antepassados era uma forma de amar e conseguir o reforço do outro. Hoje fazemos do Instagram o nosso espelho para expor o melhor de nós em troca do reconhecimento alheio: a partir desse reforço, amo-me ainda mais.
Diga-me quantos likes tenho para que eu possa me amar ainda mais.
O que Freud não esperava era que o humano seria tão capaz de expor seus desejos por suas imagens, sem levá-las ao inconsciente. O capitalismo e as mídias disponíveis hoje alimentam o espetáculo e o “salve-se quem puder” para ser alguém reconhecido e aceito publicamente.
Resumindo, em termos de redes sociais, há realmente coisas que nem Freud explica.